Uma pequena História de Chapada dos Guimarães

Vista Aérea da Praça Dom Wunibaldo e Igreja de Santana do Sacramento de 1779, uma das igrejas mais antigas de Mato Grosso.

O bandeirante paulista, Pascoal Moreira Cabral, chegou em Cuiabá no ano l718, no ano seguinte funda-se a “Vila do Nosso Senhor do Bom Senhor Jesus de Cuiabá” e em 1720, um dos integrantes de sua bandeira chamado Antônio de Almeida Lara sobe a serra de Chapada com a desculpa de caçar perdizes, quando na realidade estava disposto a encontrar um local para construir uma fazenda.
Antônio de Almeida Lara sabia da proibição que as cortes portuguesas faziam em relação a ocupação e a aberturas de fazendas em região de garimpo. Os portugueses não queriam a abertura de fazendas, pois iriam tirar trabalhadores do garimpo gerando impostos a Portugal. Além disso, os produtos gerados pelas fazendas iriam concorrer diretamente com as “monções” de abastecimento que eram monopólios dados a determinadas companhias de comércio. Essas companhias detinham a exclusividade com o comércio regional, abastecendo com víveres, óleo, sal e outros produtos importantes para a sobrevivência dos garimpeiros, que eram trocados pelo ouro produzido.
O governador de São Paulo, naquela época, era Rodrigo Cesar de Menezes e havia delegado aos bandeirantes o poder para representar a burocracia portuguesa e fazer aplicar as leis. Além de coletar os impostos, deu a liberdade necessária para a construção de várias fazendas na região do garimpo, sendo a primeira fazenda de cana de Mato Grosso a fazenda “Burity Monjolinho” exatamente onde hoje e a Escola Evangélica de Burity.
Antônio de Almeida Lara armou seis canoas e foi para a região de São Paulo em busca de mudas de cana de açúcar, voltando seis meses depois com as mudas, que logo foram plantadas em sua fazenda.
A cachaça produzida no engenho foi de grande serventia para a população já bastante sofrida pelas pestes e malária que assolavam a região. A cachaça do Buriti servia para amenizar o sofrimento.
A produção de produtos dessa região tornou-se mais importante ainda, quando os índios Paiaguás, exímios guerreiros, confederaram-se com os Guaicurús, índios cavaleiros que habitavam o sul do Pantanal e fecharam a passagem do rio Paraguai para os brancos num período de 1731 até 1737, impedindo assim o abastecimento feito pelas monções.
Com o fechamento dessa passagem pelos índios a população sitiada teve que sobreviver da caça e dos produtos produzidos pelas fazendas clandestinas. Este isolamento só foi terminado após mais uma vez terem desobedecido a ordens portuguesas de não abrir estradas na colônia para dificultar o trânsito dos produtos fora do monopólio português.
A nova estrada ligou Cuiabá até a cidade de Goiás Velho passando pela Chapada dos Guimarães, chegando então o primeiro gado vacum na região. Mais tarde os índios Paiaguás foram dizimados, na sequência os índios Caiapós. A cidade de Chapada era toda cercada pôr muros de pedra canga para repelir ataques indígenas.
A rainha de Portugal, D. Maria, percebendo que os impostos não chegavam a Portugal, nomeou uma pessoa para vir fazer a “derrama”, cobrança de impostos à força. Um baú cheio de ouro foi enviado a Portugal, quando o baú foi aberto só havia pedras comuns. A partir deste fato, Mato Grosso foi desmembrado da Capitania de São Paulo. A corte nomeia um governador português que chega a Cuiabá em 1751 trazendo em sua comitiva padres Jesuítas. Livros revelam que os índios eram outra fonte de renda para os bandeirantes, pois São Paulo era uma capitania pobre e tinha dificuldade em adquirir o caro escravo negro, sendo que, o índio era vendido pôr um terço do preço do negro, tornando um forte concorrente aos negócios portugueses.
A primeira missão Jesuíta de Mato Grosso foi num local onde hoje e denominado de Aldeia Velha, distante cerca de três quilômetros do centro de Chapada, foi dirigida pelo padre Estevão de Castro. Na missão foi construída uma igreja coberta de palha e altar forrado com papéis pintados com a imagem de Nossa Senhora de Santana do Sacramento ladeada de Santo Inácio de Loyola e São Francisco de Assis. Em 1759 o Marquês de Pombal que governava o Brasil delegado pelas cortes portuguesas expulsou todos os Jesuítas do Brasil pôr causa das missões do Sul do Brasil que ameaçavam sublevar-se ao governo português, deixando a aldeia de “Santana” abandonada, dispersando os índios que aqui moravam.
Em 1778 o Dr. José Carlos Pereira um Juiz de Fora de Cuiabá ao subir a serra deparou-se “com as condições deploráveis para a celebração dos ofícios divinos” da capela da antiga missão e reúne condições para erigir em tempo recorde uma nova igreja, distante cerca de meia légua da original, muito bonita e feita de taipa pilada sendo inaugurada em julho de 1779. Uma procissão transportou as imagens para a igreja nova, transferindo a cidade para a nova localidade.
Em l782 a cidade deixa de chamar-se Chapada de Santana e passa a chamar-se Guimarães (nome de uma cidade do norte de Portugal), em respeito a uma lei que obrigava mudar os nomes de localidade na região para diferenciar das terras da Espanha. Apenas no século XX, colocou-se “dos Guimarães” o que daria uma falsa idéia de uma suposta família Guimarães que teria a propriedade da região.
Engenhos
Muitos engenhos vão instalar-se em Chapada tornando a região importantíssima para o abastecimento local e terras da Espanha em troca da prata espanhola, que era contrabandeada para Portugal. No final do século XIX justificou-se a construção de uma estrada de ferro ligando a região da Lagoinha no interior de Chapada até Cuiabá para o escoamento da produção.
Após a guerra do Paraguai, os soldados voltaram com a peste da varíola ou bexiga que vai dizimar quase um terço da população chapadense. Em 1888 com o fim da escravidão, Chapada entra na mais profunda decadência, principalmente por não conseguir fixar os imigrantes europeus na região, por causa do clima e pela quantidade de doenças e mosquitos.
Chapada entra no século XX com apenas 10% da população que tinha no século XIX. A fazenda Buriti, já abandonada, é vendida por um preço bem abaixo do mercado aos presbiterianos norte americanos que saem de Salvador-BA no lombo de burros para estabelecer a primeira missão evangélica do Brasil Central. Estabelecendo em l923, a Escola Evangélica do Buriti, que durante muito tempo foi um colégio técnico agrícola em regime de internato, formando meninos e meninas para uma vida no campo.
Apenas na década de 1960, com o inicio da mecanização da agricultura começam a abrir os campos para agricultura. Nesta época, o município de Chapada era o maior do mundo, com mais de 204 mil KM quadrados, maior que a Alemanha antes da unificação, indo ate o limite com o Pará na Serra do Cachimbo, posteriormente desmembrado. Durante a década de 70, a expansão da pecuária estimula a criação de uma rodovia asfaltada entre Cuiabá e Chapada.
No final dos anos 70 o asfalto a televisão e o telefone interligam Chapada com o mundo. Nesta época, a cidade tinha pouco mais de mil habitantes. Hoje Chapada dos Guimarães conta com 18 ml habitantes, desses, 10 mil na zona urbana. Segundo dados levantados pela prefeitura, Chapada tem 1886 casas de veraneio e todo fim de semana recebe quatro mil pessoas.

A Chapada
A cidade de Chapada dos Guimarães tem algumas “contas” para ser considerada uma cidade turística: 46 sítios arqueológicos; 02 sítios paleontológicos; 59 nascentes; 487 cachoeiras; 3.300 km² de Parque Nacional; 2.518 km² de Área de Proteção Ambiental; 02 Reservas Estaduais; 02 Parques Municipais; 02 Estradas Parque; 157 km de paredões; 42 imóveis Tombados pelo Iphan; 38 espécies endêmicas.
O artesanato local é uma das referências na cidade, com vários artesãos locais que chegaram ou nasceram na cidade e, que ali, foram crescendo e vivendo do artesanato, que é exposto em praça pública de terça-feira a domingo para os habitantes e turistas. Existe um projeto de uma “Rua do Artesanato”, que visa criar um local específico para os artesãos, mas nada projetado ainda. Além de todas estas opções, o município conta com o turismo nos dias mais frio do ano, quando a temperatura pode diferir-se até 5°C para menos, da próxima capital Cuiabá.

Geografia
Localiza-se a uma latitude 15º27’38” sul e a uma longitude 55º44’59” oeste, estando a uma altitude de 811 metros. Possui uma área de 6249,44 km². É o segundo município mais alto de Mato Grosso.Sua população estimada em 2010 era de 17.799 habitantes

Clima
O clima de Chapada dos Guimarães é o tropical de altitude ou subtropical . No início da primavera começa o período chuvoso que se estende até o início de abril, que é o período de calor. A partir deste período, no outono, inicia-se gradativamente a estiagem, que se fortifica no inverno. É nestas duas estações que as frentes frias e incursões polares mais significativas do ano chegam à região. O clima passa a ser frio à noite e ameno/pouco quente durante o dia. As geadas são raras, registrando-se a cada cinco anos. Temperaturas negativas são muito raras, em média uma a cada dez anos. Chapada dos Guimarães possui o recorde de segunda menor temperatura do estado de Mato Grosso, -4,0°C no dia 18 de julho de 1975, atrás apenas de Cáceres.